Por que Ana Júlia perdeu a eleição?
Ela chegou ao poder em 2006, prometendo mudanças radicais, ou pelo menos um governo no mínimo diferente - seja na postura política ou nos métodos administrativos - de seus antecessores tucanos, que deram as cartas no Estado durante doze anos. Três anos e dez meses depois, a despeito de ter sido beneficiada por verbas federais para investir no Estado por conta de sua amizade pessoal e afinidade partidária com o presidente Lula, a governadora Ana Júlia Carepa encara uma derrota humilhante nas urnas para Simão Jatene. Mal tem o que comemorar na condição de primeira mulher a governar o Pará.
A rejeição popular da governadora nas urnas tem vários motivos. O principal deles, porém, está no fato de não ter feito a mudança alardeada nos palanques e de ter sido muito mal avaliada pela população.
Em verdade, ela continuou com um pé no palanque e outro no gabinete do Palácio dos Despachos. Não sabia se governava ou se ocupava o tempo para tentar responder às cobranças ao que havia prometido.
Em meio a tudo, o isolamento do poder, compartilhado por grupo minoritário dentro do PT, mas majoritário no governo, a Democracia Socialista (DS), ala liderada por Ana Júlia e por seus cardeais do que ficou conhecido por “núcleo duro”, composto pelos irmãos Marcílio e Maurílio Monteiro, respectivamente secretários de Projetos Estratégicos e Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, por Carlos Botelho, consultor geral do Estado, e pelo chefe da Casa Civil, Cláudio Puty.
Esse quarteto, em comum acordo com a governadora, praticou o que para alguns petistas é chamado de “harakiri político”. A ideia de expurgar do governo os aliados do PMDB, decisivos na eleição de Ana Júlia, contribuiu decisivamente para o começo do fim da era petista no poder.
Sucessão de escândalos levou rejeição às alturas
Outras ações de governo também ajudaram a formar o caldeirão de erros políticos e equívocos administrativos que literalmente começaram a acelerar a rejeição da governadora junto à população. Inerte, a área de comunicação do governo navegava em mar revolto, contemplando os furos que se formavam no navio governista.
Ao assumir o governo, um dos primeiros atos de Ana Júlia foi contratar sua manicure e cabeleireira como assessoras especiais. O caso virou matéria nacional. Ana Júlia demitiu a dupla dizendo que as nomeações tinham ocorrido por “equívoco”. Fez o mesmo com dois irmãos, num arroubo nepotista.
A prisão de uma menina de 15 anos com vinte homens em uma cela da delegacia de Abaetetuba, durante 24 dias, ajudou a mostrar a fragilidade da segurança pública. Como na piada do sofá, a menina violentada foi retirada às pressas do Estado. Um tiro no pé. Antes de preparar a cama de pregos para o PMDB e expulsá-lo do governo - esquecendo que devia ao partido a sua eleição -, a governadora caprichou na maquiagem negativa ao assinar um convênio de R$ 3,4 milhões com o Aeroclube do Pará em 2007, que na ocasião era comandado pelo namorado dela.
Vieram depois a morte de 250 bebês na Santa Casa, o escândalo dos kits escolares, um contrato nebuloso de R$ 20 milhões com a Delta Construções para locação de 450 veículos à Polícia Militar, a transferência de pacientes com câncer para tratamento em outros Estados diante da penúria enfrentada pelo Hospital Ophir Loyola. Parecia não haver limites para tantas ações desastrosas.
Quando criticada, Ana Júlia reagia como alguém possuído por uma ira sagrada. Em sua visão distorcida da realidade e inebriada pelo poder, tachava os críticos e jornalistas de “machistas e preconceituosos”. O tempo passava, as verbas federais chegavam aos montes para o governo aplicar no Estado, mas as obras não apareciam.
O desgaste começou a ganhar proporções incontroláveis quando explodiu o caso das caixas pretas da Auditoria Geral do Estado (AGE), revelando os tentáculos da corrupção que se disseminava pelas principais secreta-rias do governo. Em meio ao tsunami de revelações contidas nessas caixas, o governo reagia apenas com slogans.
PASSOS EM FALSO
MANICURE
Um dos primeiros atos que virou notícia foi a nomeação da cabeleireira e manicure da governadora como assessoras especiais
ABAETETUBA
A prisão de uma menor de 15 anos na mesma cela com 20 homens durante 20 dias chocou os órgãos de defesa da infância.
KITS ESCOLARES
Contrato para entrega de mochilas e uniformes para alunos da rede estadual sem licitação gerou denúncia ao MPF.
COPA DO MUNDO
A perda do posto de subsede da Copa de 2014 para Manaus sepultou a imagem do governo petista junto à opinião pública.
Muitos slogans e pouca efetividade de resultados
Depois da propaganda do “Pará, terra de direitos”, soubemos que aqui havia um governo que “cuida das pessoas”. O estrago, porém, já estava feito. A imagem de Ana Júlia já atingia mais de 50% de rejeição, como mostravam as pesquisas. Faltava algo para completar o naufrágio. E ele veio com a crueldade de um tiro de misericórdia: a Copa do Mundo de 2014. O Pará, como subsede da Copa, era a reversão de todas as expectativas negativas que o governo acumulava. Também uma resposta aos detratores do governo. Ana Júlia apimentou o otimismo da população, afirmando que era amiga de Lula e a Copa já estava no papo. A festa foi preparada na praça da República. E a multidão, entre lágrimas e raiva, viu a Copa ir para
Manaus.
A governadora ainda buscou no fundo da alma uma justificativa. Segundo ela, perdemos a Copa graças a um “complô da Fifa”. Veio a campanha eleitoral e, com ela , um saco de esquisitices políticas: a união com o rejeitado prefeito Duciomar Costa e a adesão inesperada de Almir Gabriel, o homem mais satanizado nos últimos 20 anos pelo PT e pela própria governadora.
Era a aceleração do desastre a mil por hora. Não faltava mais nada. Faltam novas explicações para a goleada de ontem nas urnas? Que venham. Elas ajudarão a construir a riquíssima saga de um governo que, na prática, acabou sem nunca ter começado. (Diário do Pará)
Em tempo: o jornal Diário do Pará que publicou essa matéria, é de propriedade da família do deputado federal Jader Barbalho e sempre deu apoio à Ana Júlia durante seu mandato.
A rejeição popular da governadora nas urnas tem vários motivos. O principal deles, porém, está no fato de não ter feito a mudança alardeada nos palanques e de ter sido muito mal avaliada pela população.
Em verdade, ela continuou com um pé no palanque e outro no gabinete do Palácio dos Despachos. Não sabia se governava ou se ocupava o tempo para tentar responder às cobranças ao que havia prometido.
Em meio a tudo, o isolamento do poder, compartilhado por grupo minoritário dentro do PT, mas majoritário no governo, a Democracia Socialista (DS), ala liderada por Ana Júlia e por seus cardeais do que ficou conhecido por “núcleo duro”, composto pelos irmãos Marcílio e Maurílio Monteiro, respectivamente secretários de Projetos Estratégicos e Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, por Carlos Botelho, consultor geral do Estado, e pelo chefe da Casa Civil, Cláudio Puty.
Esse quarteto, em comum acordo com a governadora, praticou o que para alguns petistas é chamado de “harakiri político”. A ideia de expurgar do governo os aliados do PMDB, decisivos na eleição de Ana Júlia, contribuiu decisivamente para o começo do fim da era petista no poder.
Sucessão de escândalos levou rejeição às alturas
Outras ações de governo também ajudaram a formar o caldeirão de erros políticos e equívocos administrativos que literalmente começaram a acelerar a rejeição da governadora junto à população. Inerte, a área de comunicação do governo navegava em mar revolto, contemplando os furos que se formavam no navio governista.
Ao assumir o governo, um dos primeiros atos de Ana Júlia foi contratar sua manicure e cabeleireira como assessoras especiais. O caso virou matéria nacional. Ana Júlia demitiu a dupla dizendo que as nomeações tinham ocorrido por “equívoco”. Fez o mesmo com dois irmãos, num arroubo nepotista.
A prisão de uma menina de 15 anos com vinte homens em uma cela da delegacia de Abaetetuba, durante 24 dias, ajudou a mostrar a fragilidade da segurança pública. Como na piada do sofá, a menina violentada foi retirada às pressas do Estado. Um tiro no pé. Antes de preparar a cama de pregos para o PMDB e expulsá-lo do governo - esquecendo que devia ao partido a sua eleição -, a governadora caprichou na maquiagem negativa ao assinar um convênio de R$ 3,4 milhões com o Aeroclube do Pará em 2007, que na ocasião era comandado pelo namorado dela.
Vieram depois a morte de 250 bebês na Santa Casa, o escândalo dos kits escolares, um contrato nebuloso de R$ 20 milhões com a Delta Construções para locação de 450 veículos à Polícia Militar, a transferência de pacientes com câncer para tratamento em outros Estados diante da penúria enfrentada pelo Hospital Ophir Loyola. Parecia não haver limites para tantas ações desastrosas.
Quando criticada, Ana Júlia reagia como alguém possuído por uma ira sagrada. Em sua visão distorcida da realidade e inebriada pelo poder, tachava os críticos e jornalistas de “machistas e preconceituosos”. O tempo passava, as verbas federais chegavam aos montes para o governo aplicar no Estado, mas as obras não apareciam.
O desgaste começou a ganhar proporções incontroláveis quando explodiu o caso das caixas pretas da Auditoria Geral do Estado (AGE), revelando os tentáculos da corrupção que se disseminava pelas principais secreta-rias do governo. Em meio ao tsunami de revelações contidas nessas caixas, o governo reagia apenas com slogans.
PASSOS EM FALSO
MANICURE
Um dos primeiros atos que virou notícia foi a nomeação da cabeleireira e manicure da governadora como assessoras especiais
ABAETETUBA
A prisão de uma menor de 15 anos na mesma cela com 20 homens durante 20 dias chocou os órgãos de defesa da infância.
KITS ESCOLARES
Contrato para entrega de mochilas e uniformes para alunos da rede estadual sem licitação gerou denúncia ao MPF.
COPA DO MUNDO
A perda do posto de subsede da Copa de 2014 para Manaus sepultou a imagem do governo petista junto à opinião pública.
Muitos slogans e pouca efetividade de resultados
Depois da propaganda do “Pará, terra de direitos”, soubemos que aqui havia um governo que “cuida das pessoas”. O estrago, porém, já estava feito. A imagem de Ana Júlia já atingia mais de 50% de rejeição, como mostravam as pesquisas. Faltava algo para completar o naufrágio. E ele veio com a crueldade de um tiro de misericórdia: a Copa do Mundo de 2014. O Pará, como subsede da Copa, era a reversão de todas as expectativas negativas que o governo acumulava. Também uma resposta aos detratores do governo. Ana Júlia apimentou o otimismo da população, afirmando que era amiga de Lula e a Copa já estava no papo. A festa foi preparada na praça da República. E a multidão, entre lágrimas e raiva, viu a Copa ir para
Manaus.
A governadora ainda buscou no fundo da alma uma justificativa. Segundo ela, perdemos a Copa graças a um “complô da Fifa”. Veio a campanha eleitoral e, com ela , um saco de esquisitices políticas: a união com o rejeitado prefeito Duciomar Costa e a adesão inesperada de Almir Gabriel, o homem mais satanizado nos últimos 20 anos pelo PT e pela própria governadora.
Era a aceleração do desastre a mil por hora. Não faltava mais nada. Faltam novas explicações para a goleada de ontem nas urnas? Que venham. Elas ajudarão a construir a riquíssima saga de um governo que, na prática, acabou sem nunca ter começado. (Diário do Pará)
Em tempo: o jornal Diário do Pará que publicou essa matéria, é de propriedade da família do deputado federal Jader Barbalho e sempre deu apoio à Ana Júlia durante seu mandato.
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